Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o
amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para
decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a
virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias
seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não
inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz
dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas
estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos
somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é
desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros
fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta
cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é
instantâneo ou indolor não é romance.”
— Luís Fernando Veríssimo (Texto lindo, amo)